segunda-feira, 22 de junho de 2015

passado

Linda
Seu lábio vermelho molhado
grosso como toró, vivo,
arqueado como se o cupido
usasse sua boca,
A maçã de seu rosto, firme,
espeça, como duas grandes bolas
de sorvete, seu nariz pontudo,
com os olhos fundos.
Não consigo descrever, criar
na imagem, qualquer que seja
outra beleza igual sua.
Queixo fino, cabelo castanho
Castanho esse que seus olhos
grandes, que a tanto não me olham,
tem de sobra.
Não existe em ti feitura alguma!
Não existe nada de tão belo!
nesse mundo não existe mata
ou templo tão calmo, forte
quando seu rosto, não existe
mel tão doce quanto seu lábio,
nem ferrão como seu olhar.
Tudo perde o sal, o açúcar
a graça e a cor.
Seu hiato é o mundo, é
o indiferente tu, me condeno
pois surrupio seu rosto tão
descaradamente.
Me condeno pela distância
que causei, o tempo que não
recuperei e pela saudade,
que não matarei.

noite

A noite é silencio,
o uivo da besta, o perigo
do peito aberto.
Silenciosa noite
em ti me calo.
Clara será a manhã, mas
a treva é negra e
dela me escondo.
Veja bem
a penumbra me deixa louco,
joga-me dentro d'alma,
lama, tristeza e morte.
Pois noite é o silencio,
jazido na cama, quieta,
escura, fechada, a noite
é infindável, manhã?
Por que te calas?
Manhã surges, com
o iluminar de seus bosques
o tilintar de seus sinos.
Manhã és choro de bebê
nascimento das águas,
Manhã é clara, clara água
banha-me.

decifre.

cego
Cego ego
Ego cesuro
gago, credo ego cego.
galgar sax, surdo, cego ego.

"embora haja tanto desencontro"

"embora haja tanto desencontro"
"embora haja tanto desencontro"
Sinto que no encontro
do trem a raposa ficou.
Não havia ninguém
não havia socorro,
vagões passando sobre trilhos,
animais fugindo,
a raposa ficou.
Pobre raposa, penou, penou.
O vagão se foi
o silêncio ponderou
todo mundo se calou
e a raposa se foi.
Sem amparo
seus restos comeram
os animais vitoriosos,
que o vagão ludibriam.

'eu não estou mentindo, gosto do que tu escreve' aram.


Com vagueza,
eu afago até
pobre murmurio
de sua pintura:
Corpo nu,
cabelos soltos,
cachos espalhados
na cama,
enroscada em meu corpo.
feito demônio em sonho,
nem flor em primavera,
nem samba de roda,
tiram-te de mim...
Cobra, aranha e animal
não assusta sua alma.
porque és minha pintura.

não endenrão

Pouco caso
esse acaso
que bate na porta
quase entorta.
Entra vó,
entra bolo e torta
criança pulando,
me reencontrando.
Não tem mal
se ver no natal,
dentro do carrinho
ganhando presente
ganhando carinho.
Avó não faz mal,
a saudade é mortal
a porta abriu
sua dentadura caiu
e um sorriso surgiu.
Vó não faz mal
à nostalgia sucumbi.

tédio

o tédio bateu
campainha cintilou
o barro amoleceu
e meu pé escorregou
pombo voou,
meu olho fechou
minha cabeça branqueou
o coco que fedeu
na lama estupideci
o orvalho aumento
a cicatriz não saro,
o barro corto.
a lama escorreu
minha cabeça fedeu
o branco passou
o vermelho chegou.

dentro da poesia.

nada cabe dentro do armário
sinto zunido gigante
você balançando chocalho
nada entra dentro do ouvido
sinto sorriso picante
toda esculpida
mordendo alho.
que rima farsante.
me deixou ferido
fugiu pelo ralo
acendeu o cigarro que
me queimou pra caralho.
sangrando igual lacaio
virei um errante
o mundo que é gigante
caiu no assoalho.

solta

quando o verso bate a sua porta
torta
você toca
a roupa suja pra fora
amarrota a limpa
enrola e a solta.

não encontro

Berro internamente,
reviro a cama
mundo e insumo,
rasgo lençol,
Procuro no canto
do rouxinol.
Procuro na escuridão.
S'és capeta
não pássaro,
que me arrasta pra baixo
e no inferno fico
junto às amarras.
Se me desprender
o capeta te prende,
se me tortura
mais amo, menos reclamo.
Humano que fui,
não fui
visto que de ti vivo
já não vivo.

será

Cada dia longe de ti
é um dia perdido?
Cada perda é um mar
de você
que não me afogo?
O limite é tempo,
que passou, passará.
Passei, Passei por ti
passará pr'eu e
passou pra nós.
Porque seu tempo
já não é meu.
Fosse o pássaro cantar
e você escutar,
a distância não da eco,
no vazio estridente
as escolhas passadas
são borrifadas de tinta.
O tilintar passou,
passarinho voou
na corrente parou,
o vento retrocedeu
a chuva o encharcou
e minha mão você soltou.

seja o que for

O quanto se entregou hoje?
foi o bastante para
perder uma parte de si?
ficar vazio o bastante
para ganhar uma parte
de algum mundo,
o que vai te completar.
E quando se encher
de estar completo?
Vai arrancar seu peito
e me deixar com ele respirar?
Se eu sufocar
de tanto amar, vai lá
me ajude a ter ar
beijando até cansar,
para se deitar
que seja na minha cama
no meu corpo e de meu suor
vem se banhar.
Mas quando cansar de me amar,
Encontre algo
pra se ocupar e não lembrar
dos beijos que ainda
tinha pra te dar, dos abraços
que iria te roubar, de suas frases
que eu iria completar
e de todas as vezes
que deixou de gozar!

liberte-se

Sinto no pulso uma idade inteira
A maneira que tiver de ser feito
é cortar com um objetivo fino
que é mais rápido.
Sinto o ar se perdendo
de dentro do meu peito,
estou caindo e caindo
mas não vejo o fundo.
Poderia ser o mar
água funda da salvação
que escorre por entre os cortes
de velhos carvalhos.
Sinto pulsante meu peito
ainda estou em queda,
a corda será cortada
estou caindo nesse mar de liberdade.
já sem a corda, o pulo foi feito
agora é só deixar levar para esse mar
toda a floresta que o cerca
irá me proteger.
Já não preciso mais me preocupar
aqui não a onde padecer.
Não a onde padecer,
portanto podeis viver.

asd

Pernas tremulas lutando contra o vento;
A memória perdida, roubada
a luz do sol, seus olhos esbugalhados;
de que forma eram?
Quanto brilho soltava,
Quais silabas, quais gírias usava?
Meus joelhos doem, onde você esta?
Quero lembrar a forma de sua sombra.
Esqueço as chaves de casa e
me prendo do lado de fora, esqueço
a calculadora, não tenho como pagar
as contas, estou tão cansado.
Apareça algum dia, quero lembrar
do seu rosto, minha cara amassada
já não é perigo, não é tentação
pro seu coração.
Como estão as coisas? Você namora?
Você ama? deveria amar, quando não ter
forças para te segurar
apenas se deixe cair que o mundo te segura.
Mas não acorde na queda, não vislumbre
a realidade, lembre de seus sonhos.
Estou tão perdido, parece esquecimento
mas eu lembro que havia algo, o que?
Cometa o erro de não se'u
se lembre das estrelas já contadas.
Não esqueça d'eu, só de um bocado,
só do passado.
Só do passado, o galho quebrado
meu velho joelho, doído de
olhos calejados e visão embaçada
como a memória que roubaram.
Que desespero
lembro-me que não existe,
seus olhos se perderam
e meus sonhos não encontraram.

tic

o caminhão passou
com aquela carga tão pesada
a estrada toda suja, esburaca
mas o caminhão passou
a poeira em minha cara
me fez perder o controle
simplesmente bati, parti.
Mas o caminhão passou
e o trânsito tal hora parado,
voltou a andar.
Dizem até que
Bicicletas tem motor
e toda a carne acabou,
Aliás todo transporte
agora é marítimo
portanto o tempo do
caminhão passou,
justo, pois tudo passará.
A grama cresceu
durante todo verão,
durante o ano, viveu.
Agora vem tu, frio
A geada matou
o pasto do meu boi,
essa mesma matou
a lavoura da minha dona.
o meu pau murchou
e o caminho do carro
ficou escorregadio.
Estou tão cansado
e sou tão novo
para as friezas da vida.
Temporárias ou não
as deixo vencer
sem qualquer resistência
de seguir o verão,
de terminar o verso.

O poste que tem a luz queimada
não é mais mijado,
os cachorros o ignoram,
não a brilho nele

que tem tanto a contar.
O poste coitado, não foi concertado,
a chuva vem, os raios e o peso
do tempo.

Até o sol o resseca
e ele continua sem luz,
com tantas histórias,
todas escuras

e em todas 
existe mentira e verdade,
em todas existe algo
que o poste desconhece

e não descobre,
não a tutor para explicar,
não a nem construtor
para o arrumar.

esse poste ficou tão só
que nem viu o tempo passar
o agora dele é o mesmo
que outrora fora agora.

Nesse poste que já
quebrado nem lembra
que iluminou, muito menos 
que o marcaram.

Esse poeste quebrado hoje
não existe, não é visto,
não é sonhado,
nem mais sabe como se é chamado.

se já foi derrubado
ou amado.

sha lalala

antes talvez faltasse verdade,
hoje de tanta verdade que tem
me perco em mentiras

prefiro não me encontrar
prefiro não te encontrar
seja qual for o lugar

vamos ser francos

Vamos ser francos
Não estou interessado em desafios
Deus, já te provei forte, já te provei
astuto.

Já levantei peso e cai
com os braços cansados
Já li e desmaiei
com os olhos fadigados.

Vamos ser francos
não irei continuar
sendo seu capacho
lutando pela sua glória.

Ó deus, não curarei mais a fome
não serei seu guerreiro
não sou seu escravo.
Ó me leve, me leve daqui

que o inferno nem começou
que a bíblia nem contou
os detalhes do terror.
Me leve enquanto amo

enquanto me afogo
de viver
de beber água pura
dessa terra linda

dessa minha terra
que é brasil, de onde já
tirares tanto que amo
de onde tiras tantos que amam.

desculpa

Hoje sou a vítima
pois cortei
a última árvore
de meu pátio.

Sou a vítima que
tomou o último
gole de seu elixir.
de que nada serviu

Pois minha mão
continua nua e quente.
Parece transparente
como os ventos

que adentram meu peito
como o frio
que gela meu torso
e o osso frágil

que quebra na
mais frágil caminhada.
Meu passo esta tão
pesado assim?

Como a árvore
que derrubei,
como o cálice caído
de seu elixir

que não me fez
deixar de existir,
apenas sorrir
pela mentira não acabar.

não acabar, a mentira
mentira.

Feel so weak

A grama cresceu
durante todo verão,
durante o ano, viveu.
Agora vem tu, frio

A geada matou
o pasto do meu boi,
essa mesma matou
a lavoura da minha dona.

o meu pau murchou
e o caminho do carro
ficou escorregadio.
Estou tão cansado

e sou tão novo 
para as friezas da vida.
Temporárias ou não
as deixo vencer

sem qualquer resistência
de seguir o verão,
de terminar o verso.