terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Tentativa frustrada de matar o tédio.

5:52 da manhã, irá amanhecer e o sol estará coberto pelas nuvens, doce verão, o ano recém iniciado, promete a euforia, conquista, prosperidade. Minhas costas estão arqueadas, meus pés acima da escrivaninha. Fico me lamentando olhando a parede amarela fraca de meu quarto, sujo, imundo, tomado pelo mofo. Entendo todos os conceitos, sou um vigário nesse quarto, sou um monge, a porra de um sábio que enfeita as paredes com marcas de baratas mortas, como se fossem a salvação para a mesmice. Te procurei no mar, te procurei nas ondas naquele dia, vi vultos, curvas e sem absolutamente nada a fazer me debrucei sobre as areias e chorei, chorei tanto que engulo cada lágrima como se fosse um balde inteiro, que não me sequei ainda. Lembro-me bem desse dia, o ano novo, foi tão novo que escrevi um poema, esperançoso, o coração vibrará pensava eu, me arrepiando com a ideia de amar. Os carros passavam pela avenida e eu olhando de cima, bebendo como se fosse algum tipo de escritor, como se soubesse de alguma palavra ou destino. Escrevi o poema como a quem acaricia um parente falecido, no distanciamento físico, onde apenas a alma importava. Não a queria, de forma alguma, queria algum tipo de amor, ser proletário, operário dessa alma e nas companhias usuais aplaudindo, elogiando minha eloquência e meu esforço por aquela paixão acabei me sentindo privilegiado, onipresente para a pobre criatura que recebeu o poema. Por menores foi entrega-lo, bastou atravessar a rua e qualquer morador do prédio se prontificava a dar em mãos a carta perfumada, tanta segurança, tantas câmeras e andares, tão fácil chegar a você. Cheguei, leu-me inteiro, mordendo seu lábio, apaixonada, olhou para fora, procurou-me em todos lugares enquanto brindávamos inquietos a chegada do ano novo, na cobertura admirando sua curiosidade. Como a alma engana traiçoeiramente o corpo, como o desejo constitui do desconhecido, pois quem se perdeu fui eu, te esperando, te olhando, me mostrava, me fazia fácil, ali perto e de perto em perto o ano novo estava próximo e o destino de minhas companhias decidido junto ao meu, os fogos na praia. Com a champanhe, taças a mão, pessoas de branco e eu sem um tostão pra me vestir de forma apropriada te procurando a cada canto, cada quadra que passava e -Fui apadrinhado nesse verão. que honra, que honra ser apadrinhado por segundas intenções, que honra ser julgado. - tudo que eu havia em mãos era o meu peito, meio bêbado e cambaleante te procurando entre os tantos milhares desconhecidos, imuteis que ali jaziam, perdão, viviam, fanfarrões da vida, trabalhadores, homens honrados com suas mulheres molhadas sonhando a captura.
FOGOS, o ano novo chegou, brindamos, bebemos e tiramos fotos, quantos fotos, lembro-me de um amigo cantando 'feliz ano novo, adeus ano velho' sem qualquer esperança que esse ano alguma coisa realmente tivesse significado. Ela não estava ali, não a encontrava, não a via e meu ano novo, embriagado se resumiu a meus olhos procurando em vão a salvação. Poderia corresponder a vida com a morte da bezerra.Tomamos banho de mar, dançamos, pulamos e conversamos, a perfeição.
-Saúde, saúde, feliz ano novo meus caros amigos, feliz ano novo.
Voltamos, mas eu se quer havia ido, estava lá na cobertura, olhando-a de longe, procurando-a. Ela não foi ver os fogos, não saiu de casa, tão pouco eu os vi. Fiquei vendo-a no fundo do mar, fitando-a.

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